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"A saudade dói, não vai passar" diz mãe após um ano da morte de Núbia

Autor: Thiago Garcia

Fonte:

22/09/2018

Nesta segunda-feira (24) completa um ano da morte que comoveu Franca (SP) e o país. Núbia Ribeiro Duarte, de 21 anos foi brutalmente assassinada pelo trio Leonardo Cantieri, Lauany Prado e Italo Vinicius que estão presos e aguardam julgamento que deve acontecer nos próximos meses.

A mãe, Tania Ribeiro busca manter viva as lembranças da única filha e convive com a dor e a saudade. Pela primeira vez, ela abriu as portas de sua casa e falou com exclusividade ao repórter Thiago Garcia, do Pop Mundi e Rádio Imperador.

Tania mantém as lembranças da filha após um ano do assassinato (Foto: Thiago Garcia/Pop Mundi)

Tania mostrou o quarto da filha, onde ela passava a maior parte do tempo. Emocionada, ela falou dos momentos que viveu ao lado de Núbia e o que aos assassinos. 

A missa de um ano da morte de Núbia Ribeiro acontece nesta segunda-feira, a partir das 19h, na igreja Capelinha. 

Veja:

ENTREVISTA

O que é a Núbia para você e o que ela representa e o como você mantém essa força diária após a perda da sua única filha?

Então, eu tento de toda forma manter ela viva. Esse ano que passou, um ano já vai fazer segunda-feira, tudo que faço é pensando nela. Estou buscando ajuda espiritual, essa semana está sendo muito difícil, porque vem as lembranças da semana, vem os últimos momentos dela, mas a força que eu procuro é saber ela teve uma vida muito boa, que eu eduquei ela muito bem... Ela viveu intensamente a vida dela, o cartão que ela me deus no meu aniversário cinco dias antes. Cada dia é um sentimento, a saudade dói, não vai passar. A dor, a falta que ela me faz, mas falar da Núbia para mim é manter ela viva.

Você mantém as coisas todas da Núbia, como é entrar nesse quarto e não ter a Núbia?

É difícil. O cheiro dela, o corpo dela, a bagunça, do barulho dela, é doloroso. Não tem o que fazer para ela voltar, eu não tenho mais. Então eu procuro nas lembranças, sabe? Só tenho boas lembranças da Núbia, dela muito feliz, muito intensa, muito alegre, de bem com a vida, não gostava de tristeza, então eu estou do jeito que ela gostaria de viver... Forte, como te mostrei no cartão, ela diz que eu sou a raiz mais forte do jardim dela, então se eu estou aqui, a raiz ainda está aqui, quer dizer que ela não morreu. A raiz dela sou eu e estou aqui.

Você abriu pela primeira vez o espaço onde a Núbia acostumava passar a maior parte do tempo. Tem fotos da adolescência, infância, alguma coisa mudou, se tivesse que desfazer de algo o que faria ou pretende manter as lembranças da Núbia?

As roupas não, a maioria nós fizemos o bazar. Ela não tinha apego para essas coisas, roupas, sapatos... O perfume dela que ela levou na mão no dia que ela saiu (domingo), ela levou. Era um perfume francês que ela tinha o sonho de ter e tinha conquistado um mês antes, e fui saber a pouco tempo que eles jogaram nela na hora do fogo e agora no meu aniversário eu fui presenteada com esse perfume, então quando eu sinto saudade dela eu passo o perfume dela.

Você inclusive até tatuou a Núbia.

É o que eu digo. Só foi o corpo dela, ela continua aqui. Ela tinha uma vida, ela tinha um brilho, aonde ela ia pelas mensagens de amigos que participavam do lazer dela, eles me mandam mensagem dizendo que a Núbia era uma menina que todos queriam ficar perto dela. Ela não gostava de ninguém triste, e isso tudo, a beleza, uma menina muito popular, incomodou muito.

A última vez que você esteve com ela, qual foi a última palavra, o que ela disse para você quando saiu de casa?

Ela estava aqui e perguntou que horas que o Ronaldo ia chegar e se podia usar o carro. Aí eu falei, pode sim. Ela falou vou sair com a Edlaine... Ela foi tomou banho, arrumou o cabelo, dançou, cantou, se arrumou, muito vaidosa. Aí o Ronaldo chegou com o carro ela foi no quarto me deu um beijo e disse, mamãe já vou, então eu disse vai com Deus... Ela passou o domingo todo comingo.

Quando ela saiu e você percebeu que ela não tinha voltado.

Eu só percebi quando meu marido levantou e viu que o carro não estava. Aí nessa hora já percebi que tinha algo errado, não era costume dela. Aí peguei celular, liguei e deu caixa postal... Nisso a polícia ligou dizendo que tinha um carro abandonado na Nelson Nogueira e que era para ir tirar o carro, aí eu já me desesperei.

Você já temia pelo pior, Tania?

Já temia, porque ela não fazia isso... É uma mistura, vem tudo, na hora você tem esperança... Não queriam o carro, queriam ela.

Ela vinha sofrendo algum tipo de ameaça, que te desse essa condição de temer pela vida dela?

Ela teve um relacionamento um ano antes, mas nada... Eu fique sabendo da visita da menina (Lauany) lá na loja dela, depois do acontecido. Fique sabendo da existência do moço (Leonardo) depois também.

Você sabe que estão presas as pessoas que participaram dessa tragédia, mas qual o sentimento que você tem com relação a essas pessoas? Você conseguiria perdoá-los?

Não. Perdoar eu não consigo. Além deles tirarem o direito da Núbia continuar a vida, o quanto ela amava viver, eles me mataram em vida também... O que se passa na cabeça de um ser, não posso chamar de ser humano, de uma pessoa fazer o que eles fizeram, a maldade. Se eu for pensar no que eles fizeram, no passo a passo, isso me levaria à loucura, fazer coisas que não são da minha índole, mas perdão só Ele lá em cima.

Te alivia saber que eles estão presos e que serão julgados pelo crime que cometeram.

Com certeza, que a Justiça está sendo feita, embora seja falha. Por maior que seja a condenação deles, vai ter data para acabar, né. Eles vão voltar, vão viver, a minha não. A dor, a saudade, a falta... A condenação dela foi a morte e minha de conviver com tudo isso, porque era a minha única filha... Tenho vídeos dela desde quando ela nasceu.

Quando você vê esses vídeos e ouve a voz da Núbia, os movimentos dela, o que te trás?

É um misto, sabe? Aí vem a raiva. Raiva de quem fez, mas ao mesmo tempo não o que eu fazer mais para voltar. Então, eu mato a saudade e converso com ela como se ela estivesse aqui.

Você usa muito as redes sociais.

Eu me sinto muito sozinha, meus pais moram mais longe, distantes, então uso as redes sociais para desabafar. E o que está dando muita força são as orações, amigos, pessoas que nem conheço e sei que estão rezando por mim... Pessoas que pegaram essa dor, quem conheceu a Núbia sabe que ela estava em um momento muito feliz... Só que ela tinha um defeito, ela não via maldade, quando a gente não tem maldade no coração a gente não enxerga a do outro.

Tania, esse era o cantinho dela. Quando você passa por aqui, vê as coisas dela e olha para aquele quadro?

Aquele quadro, aquela foto eu acho ela muito interessante. Porque é uma foto que se você olhar de todos os ângulos, ela (Núbia) está te olhando. É um sorriso contagiante, ela fez muita gente feliz.

Quando disse no começo que falar da Núbia te fortalece, te deixa ainda mais forte para continuar toda essa situação que envolveu a Núbia, de certa forma falar dela te fortalece.

Igual eu te falei. Falar da Núbia é manter ela viva. É trazer toda a alegria dela de volta.

Segunda-feira (24 de setembro) certamente é uma data que você quer esquecer e torce para setembro acabar logo, mas se pudesse falar algo para a Núbia que não tenha dito, o que você falaria?

Nossa! Eu falei tudo para a Núbia. Esse sentimento eu não tenho, o que eu pude falar, ‘eu te amo’, ‘mamãe te ama’, o que eu poderia fazer por ela eu fiz, corrigi, eduquei, ensinei ela a amar, mas hoje eu falo para ela, filha... continue no caminho da luz.